Este artigo faz parte da série colaborativa “Arquitetura do Leste Europeu: 50 Edifícios que Definiram uma Era”, desenvolvida em parceria entre o The Calvert Journal e o ArchDaily. Celebrando alguns dos principais ícones da arquitetura do leste europeu, publicaremos periodicamente uma lista com cinco projetos construídos no então Bloco de Leste.
Sede do Banco da Geórgia / George Tschachawa e Zurab Dschalagonia
Tbilisi, Geórgia
1975
A sede do Banco da Geórgia, anteriormente ocupada pelo Ministério da Construção de Rodovias, é considerado um dos edifícios soviéticos mais impressionantes e curiosos já construídos. Localizado na periferia de Tbilisi, capital da Geórgia, o edifício projetado pelos arquitetos George Tschachawa e Zurab Dschalagonia é uma estrutura de características arquitetônicas ímpares, uma combinação de construtivismo russo e brutalismo soviético.
Concebido originalmente em 1975 para abrigar a sede do então Ministério da Construção de Rodovias da Geórgia, o projeto precisava adequar-se a uma geografia assaz abstrusa. Os arquitetos procuram responder com criatividade às limitações impostas pelo terreno de inclinação acentuada, construindo uma reação harmônica entre arquitetura e paisagem. Desta forma, eles optaram por fragmentar o programa do edifício em cinco volumes horizontais de dois pavimentos, intercalado-os perpendicularmente, criando uma série de espaços intersticiais entre as peças do conjunto, resultando em uma maior área de fachada e interiores amplamente iluminados. Através deste “empilhamento”, os arquitetos deixaram espaço pra que a natureza crescesse e se apropriasse do edifício, fluindo por entre os volumes de forma que o mesmo, com o tempo, se transformaria em uma espécie de casa na árvore.
Em 2007, o edifício foi tombado pelo patrimônio histórico nacional e, entre 2010 e 2011, o conjunto da Sede do Banco da Geórgia passou por um amplo projeto de reforma realizado sob o cuidados da Architectural Group e Partner. Ainda que respeitando as principais características formais do projeto original, a reforma levada à cabo pela AG&P continha uma série de inovações tecnológicas, como as paredes de concreto translúcido inseridas no interior para maximizar as condições de iluminação natural.
Rodoviária de Hrazdan / Henrik Arakelyan
Hrazdan, Armênia
1978
Assim como aconteceu com a maioria dos países da Europa Central e Oriental que faziam parte da antiga URSS, a Armênia também herdou um vasto patrimônio arquitetônico construído durante os anos de ocupação soviética. Concebida pelo arquiteto armênio Henrik Arakelyan em 1978, a Rodoviária de Hrazdan é hoje um dos maiores símbolos deste conturbado período da história recente do país.
A estrutura principal consiste em um edifício de planta retangular de dois pavimentos com fachadas de vidro do piso ao teto em suas quatro faces. Tal estrutura se conecta a uma torre de aparência única, como uma “estrela” coroada por generosas vigas triangulares de concreto aparente em balanço. Este volume ímpar e excêntrico, construído a partir de uma planta circular, proporciona ao edifício uma sensação de movimento e leveza.
Atualmente abandonado, o projeto segue despertando o interesse de muitos arquitetos e designers do mundo todo. O edifício já inspirou até uma coleção completa de vestuário além de móveis e acessórios. Além disso, o Departamento de Arte e Pesquisa Urbana B.A.C.U., uma organização que se dedica a preservação e reabilitação da paisagem urbana e cultural do Leste Europeu, está desenvolvendo uma campanha para levantar fundos para financiar o projeto de reforma do complexo em Hrazdan.
Palácio do Registro Civil de Almati / M. Mendikulov, A. Leppik, e N. Orazymbetov
Almati, Cazaquistão
1971
Enquanto tradicionalmente os casamentos costumavam durar semanas no Cazaquistão, o Registro Civil surgiu por uma necessidade burocrática na sociedade soviética, uma adaptação que procurava combinar tradição com modernidade. Um exemplo dessa mistura “modernizadora” é Palácio do Registro Civil de Almati.
Inaugurado em 1971, o Palácio do Registro Civil de Almati, ou “Zhas-Otau”, foi concebido por M. Mendikulov, A. Leppik e N. Orazymbetov. Situado no topo de uma colina e de frente para o Teatro Auezov, esta estrutura circular com fachadas de vidro do piso ao teto incorpora uma segunda envoltória metálica ornamental em forma de brise-soleil. Somando-se à esta aparência excêntrica, a fachada norte contava com um grande painel em mosaico, ilustrando um jovem casal cavalgando em cavalos brancos e uma cachoeira como pano de fundo. Interiormente, o palácio que ainda hoje é utilizado para a celebração de matrimônios, conta com uma decoração pra lá de romântica: colunas de mármore, afrescos e balaustradas ornamentadas.
Edifício dos Correios / Janko Konstantinov
Escópia, Macedônia do Norte
1974-1989
Conhecida como a “cidade que ressuscitou das cinzas”, Escópia, capital da Macedônia do Norte, foi completamente destruída durante o forte terremoto que assolou a cidade em 1963. Ao longo do processo de reconstrução liderado pelas autoridades da antiga Iugoslávia, muitos de seus cidadãos diziam que a história e a cultura da Escópia estavam se perdendo para sempre. Isso se deve ao fato de que o planejamento urbano da cidade, ao invés de proteger e resgatar as estruturas do passado, impulsionou a construção de novos edifícios modernos, brutalistas e, em muitos casos, excêntricos. Uma destas estruturas é o Edifício Central dos Correios da Escópia.
Concebido pelo arquiteto macedônio Janko Konstantinov, que havia crescido trabalhando ao lado de Alvar Aalto, a estética do Edifício dos Correios representava uma visão de futuro bastante incomum para os habitantes da Escópia naquela época. Devido a sua complexidade, o edifício foi construído em três etapas: em 1974 com a construção do edifício principal e da torre, inspirada na fortaleza às margens do rio Vardar; em 1982 com a subsequente inauguração do impressionante volume circular (conhecido como a “flor brutalista” ou “inseto brutalista”), edificada em homenagem ao arquiteto japonês Kenzō Tange, que participou da reconstrução da cidade após o terremoto e, finalmente, em 1989 com a conclusão das estruturas complementares. Além de suas formas únicas, o edifício projeto por Konstantinov compreendia uma série de murais cubistas criados pelo artista plástico macedônio Borko Lazeski. Entretanto, após um grande incêndio que destruiu parte do edifício em 2013, boa parte dos murais e a cúpula foram destruídos. Desde então a sede dos correios da Escópia encontra-se fechada ao público, ainda sem previsão de reabertura.
Arquivos de Estado / Yuzef Kadımov e Şafiga Zejnalova
Baku, Azerbaijão
1977
Devido à sua posição geográfica entre diversos impérios e diferentes culturas, Baku é uma cidade que sofreu enorme influência de várias épocas e civilizações, como a islâmica, a Rússia imperial, o vitorianismo, o desconstrutivismo e por fim, o modernismo soviético. Durante a segunda metade do século XX, a URSS passou a investir fortemente na industrialização do país, passando por cima de um território até então de economia fundamentalmente agrária, resultando em uma arquitetura simples e descomplicada.
O monumental edifício dos Arquivos de Estado de Baku, no Azerbaijão, foi inaugurado em 1977 e concebido pelos arquitetos Yuzef Kadımov e Şafiga Zejnalova. O edifício em sua volumetria prismática e sólida, relembra algumas das principais obras do realismo soviético e dos primórdios do modernismo. A estrutura, que agora serve ao governo do Azerbaijão, cumpre a função de armazenagem e manutenção dos arquivos nacionais e visualmente se apresenta em dois elementos independentes: um volume inferior de três pavimentos, ornamentado e com uma série de aberturas, janelas e brise-soleils em concreto aparente, e um volume superior, sólido e introspectivo — como uma enorme caixa de concreto flutuante.
Traduzido por Vinicius Libardoni.